quinta-feira, 23 de outubro de 2014

MEIO AMBIENTE EM FOCO

Inventor adolescente cria método para limpar lixo plástico dos oceanos

Boyan Slat é um jovem de 20 anos em uma missão ambiciosa – livrar os oceanos do planeta dos plásticos flutuantes.
Apesar da idade, ele já leva anos tentando encontrar maneiras de coletar esses resíduos – e sua técnica já convenceu entusiastas e patrocinadores dispostos a bancar seus projetos.
“Eu não entendo por que ‘obsessivo’ tem uma conotação negativa, mas eu sou obsessivo e gosto disso”, diz Slat. “Eu tenho uma ideia e vou em frente com ela.”
A ideia surgiu quando ele tinha 16 anos, em 2011, enquanto mergulhava na Grécia. “Eu vi mais sacos plásticos do que peixes”, diz. Ficou chocado, e ainda mais chocado ao notar que não havia nenhuma solução aparente.
“Todo mundo me disse: ‘Ah, não tem nada que você possa fazer com os plásticos depois que eles chegam aos oceanos’, e eu me perguntei se isso era verdade.”
Entre os últimos 30 e 40 anos, milhões de toneladas de plástico entraram nos oceanos. A produção mundial de plástico é de 288 milhões de toneladas por ano, das quais 10% acabam no oceano. A maioria – 80% – é proveniente de fontes terrestres.
O lixo é arrastado por ralos e esgotos e acaba nos rios – assim, aquele canudo de plástico ou cigarro que você jogou no chão podem acabar no mar.
O plástico é transportado por correntes para cinco sistemas de água rotativos, chamados de giros, nos grandes oceanos, sendo o mais famoso a enorme Mancha de Lixo do Pacífico, entre o Havaí e a Califórnia.
A concentração de plástico nestas áreas é alta e elas chegam a ser chamadas de sopa de plástico. A região abrange uma área duas vezes o tamanho do Texas. Além disso, o plástico não fica no mesmo lugar. Tudo isso faz com que a limpeza seja um grande desafio.
“Se você for lá para tentar limpar com navios levaria milhares de anos”, diz Slat. “Não só isso, seria muito custoso em termos de dinheiro e energia, e os peixes seriam acidentalmente capturados nas redes.”
Quebra-cabeças – Slat sempre gostou de encontrar soluções para quebra-cabeças e, ao refletir sobre este, pensou que, ao invés de ir atrás do plástico, por que não aproveitar as correntes e esperar que ele chegue até você?
Na escola, Slat desenvolveu sua ideia como parte de um projeto de ciências.
Uma série de barreiras flutuantes, ancoradas no leito do mar, primeiro capturariam e concentrariam os detritos flutuantes. O plástico se moveria ao longo das barreiras no sentido de uma plataforma, onde seria, então, extraído de forma eficiente.
A corrente oceânica passaria por baixo das barreiras, levando toda a vida marinha flutuante com ela. Não haveria emissões nem redes para a vida marinha se enroscar. O plástico coletado no oceano seria reciclado e transformado em produtos ou em óleo.
O projeto de ciências do ensino médio foi premiado como Melhor Projeto Técnico da Universidade de Tecnologia Delft. Para a maioria dos adolescentes, as coisas teriam ficado por ai, mas com Slat a coisa tinha de ser diferente.
Desde muito cedo, ele se interessou por engenharia. “Primeiro eu construí casas nas árvores… em seguida, coisas maiores”, diz. “Quando eu tinha 13 anos, estava muito interessado em foguetes.”
Slat ancançou um recorde mundial no Guinness pelo maior número de foguetes de água lançados ao mesmo tempo: 213. “A experiência me ensinou a como atrair o interesse das pessoas e como abordar de patrocinadores”, conta.
Quando Slat começou a estudar engenharia aeroespacial na Universidade de Delft, a ideia de limpar os oceanos seguia com ele. Ele criou uma fundação chamada The Ocean Cleanup (Limpeza de Oceano, em tradução literal) e explicou no evento TEDx seu conceito de como os oceanos poderiam se limpar.
Seis meses depois de entrar na faculdade, decidiu trancar o curso para tentar tornar seu projeto uma realidade.
Todo o dinheiro que ele tinha eram 200 euros (R$ 630). Os meses seguintes foram usados em busca de patrocínio.
“Foi muito desanimador porque ninguém estava interessado”, diz ele. “Eu lembro de um dia entrar em contato com 300 empresas para patrocínio – apenas uma respondeu, o que, também, resultou em nada.”
Mudança brusca – Mas então, em 26 de março de 2013, meses depois de ser publicada na internet, a fala de Slat no TEDx se tornou viral.
“Foi inacreditável”, diz ele. “De repente, tivemos centenas de milhares de pessoas clicando em nosso site todos os dias. Eu recebia cerca de 1.500 e-mails por dia na minha caixa de correio pessoal de pessoas se voluntariando para ajudar.”
Ele montou uma plataforma de financiamento coletivo que captou US$ 80 mil em 15 dias.
Slat ainda não sabe o que fez a sua ideia decolar dessa maneira, mas diz ter sido um grande alívio.
“Um ano atrás eu não tinha certeza de que seria bem-sucedido”, diz. “Mas, considerando o tamanho do problema, era importante pelo menos tentar.”
De acordo com o Programa de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas, há, em média, 13 mil peças de plástico flutuantes por quilômetro quadrado de oceano. Muitas dessas partículas acabam sendo ingeridas acidentalmente pelos animais marinhos, que podem morrer de fome já que o plástico enche seus estômagos.
Albatrozes são particularmente vulneráveis porque se alimentam de ovos de peixe-voador, que estão ligados a objetos flutuantes. Tartarugas tendem a ser vítimas de sacos plásticos, que, quando imersos na água, são parecidos com água-viva.
Conhecimento e críticas – É uma situação grave – e, por isso, quando Slat apareceu com uma solução aparentemente simples, começou a fazer manchetes em todo o mundo. Poderia um adolescente salvar os oceanos do planeta?
Seu entusiasmo contagiou milhões de pessoas – mas, junto com as ofertas de ajuda e doações, vieram as críticas. Não daria certo, disseram alguns. Outros argumentaram que seria melhor coletar lixo de praias, onde os resíduos chegam levados pelas ondas.
“É da minha natureza que, quando as pessoas dizem que algo é impossível, eu queira provar que elas estão erradas”, diz Slat.
Depois de ter chamado a atenção do mundo, a primeira coisa que ele fez foi desaparecer de vista. Precisava de provas científicas para apoiar sua teoria e responder a seus críticos.
Slat reuniu uma equipe de cem pessoas, a maioria voluntários, que foram espalhados por todo o mundo. Durante os estudos, ele visitou a área conhecida como a Mancha de Lixo do Atlântico Norte, onde a plataforma deverá ser construída.
“Fiquei muito enjoado nos primeiros três dias. Havia ventos de 25-30 nós (40-55 km/h) e ondas de 3 metros de altura. Foi uma experiência e tanto”, diz ele.
Em junho, um mês antes do seu aniversário de 20 anos, Slat ressurgiu com um relatório de viabilidade de 530 páginas, cuja capa foi feita de plástico reciclado. O relatório, baseado em diversos testes e simulações de computadores e assinado por 70 cientistas e engenheiros, respondeu a muitas das dúvidas que foram levantadas.
Após o estudo, ele pôs em marcha uma nova campanha de financiamento, que rapidamente atingiu a meta de US$ 2 milhões. Isto irá financiar um piloto maior no próximo ano e Slat espera que a plataforma do Atlântico Norte possa se tornar realidade em 2020.
Mas, mesmo assim, nem todos estão convencidos da viabilidade da ideia.
Um problema é que o plástico não está apenas flutuando na superfície, mas é encontrado em toda o corpo de água, mesmo em sedimentos no fundo do oceano.
A pesquisadora marinha Kerry Howell, da Universidade de Plymouth, disse à BBC ter encontrado lixo nas partes mais profundas do oceano. “Você está indo para um lugar onde ninguém jamais esteve antes”, diz ela. “É como ir à Lua e encontrar um pacote de batata frita.”
As críticas, no entanto, não parecem desanimar Slat, que trabalha 15 horas por dia. “Faz tempo que não vejo meus amigos, eles tentam me encher o saco dizendo como é legar estar na universidade”, diz ele.
O jovem diz que sua idade não o atrapalhou, e que pode, inclusive, ser uma vantagem. “Eu não tinha nada a perder, exceto minha renda dos estudos, portanto, essa não era uma preocupação”, diz. “Se você quer fazer algo, faça o mais rápido possível.” (Fonte: G1)

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